sábado, 16 de março de 2019

É possível atrair os filhos para atividades offline? Convites para programas 'mornos' não cativam os adolescentes - Jovens costumam desafiar o perigo, querem a adrenalina. O que precisa acontecer?


Adultos conseguem mostrar um caminho mais prazeroso pra que os jovens não incorram em erros graves?



Por Marise Jalowitzki
16.março.2019
https://marisejalowitzki.blogspot.com/2019/03/convites-para-programas-mornos-nao.html

Adultos conseguem mostrar um caminho mais prazeroso pra que os jovens não incorram em erros graves?

Mais que coibir, se alarmar, escandalizar, tentar proibir, o necessário é  tentar monitorar atitudes estranhas, acompanhar o fluxo financeiro caso trabalhem, ver o que recebem através de transportadoras, tentar conversar, conversar, conversar e 'arrastar' junto, mesmo com 'cara de emburrado', para alguns programas offline. Difícil? Sim. Mas é o que está ao alcance dos pais de adolescentes e jovens adultos.

O jovem de 17 anos, pricipal atirador no caso do Massacre em Suzano-SP, apesar de todos os agravos de sua criação: pais com problemas de drogadição; crescer longe dos pais - ele e as irmãs mais novas - ; avós como tutores; a morte recente da avó; receber bullying pelas espinhas exageradas - que mexem diretamente na vaidade e, por consequência, na autoestima -; o fato de ser um 'problema' na escola, que culminou em sua expulsão; recebeu de outros membros da família, dentro de suas limitações, o suporte que aqueles puderam dar: o tio o empregou em seu lava jato (o mesmo tio que foi morto pouco antes do ataque à Escola) e, segundo dizem, foi morto porque havia descoberto o esquema do ataque e, por isto, foi silenciado. Será? Matá-lo hora antes do ataque, onde todos teriam amplo conhecimento dos fatos? E onde fazia parte do plano os tristes protagonistas quitar-se a vida? Que diferença faria? Teria sido esta a razão? Ou terá sido o ódio da rejeição sofrida com a demissão que o tio lhe passou e, quiçá, desavenças, discussões? Nunca saberemos, pois estão todos mortos...

O rapaz foi então trabalhar em uma carrocinha de cachorro quente. Alguém deve tê-la financiado. Provavelmente os avós. Ninguém monitorou seus ganhos e gastos, provavelmente por ele já ser "um homem". Por mais de ano foi guardando o dinheiro recebido, arquitetando o plano e adquirindo pela web as armas "brancas" (besta, machado, machadinha, facas) e, sabe-se lá onde, as demais armas e munições (o revólver 38, os explosivos, etc.). 

Besta é uma arma de caça medieval, aparece em vários jogos virtuais de luta, arma que pode ser letal, usada tanto pelo estudante de 17 anos no ataque na escola em Suzano-SP, como a encontrada na mochila do professor de violino, no DF, dois dias após o massacre, é livremente comercializada pelos mercados internacionais e nacionais (como a Mercado Livre), variando entre  75,00 e 1.900 reais. Para adquirir, basta ter maioridade (18 anos). As páginas na internet também ensinam o passo a passo de como m ontar, usar e constituir as armas. Pessoalmente, conheço muitos jovens que se seduzem por esta arma e pedem para seus pais para tê-la, para expor na parede de seus quartos. Os pais não cedem.


Caso se tratasse de uma situação gerenciada por adultos responsáveis, estas compras nunca teriam acontecido. Máscaras, botas, ninguém acompanhou toda esta movimentação e gerenciamento... 

E absolutamente não dá para responsabilizar o pobre avô por isso, ele que gostava muito do neto, ele que foi xingado pela mãe (com problemas visíveis de drogadição) frente ao repórter quando este entrevistava os dois. O homem chegou a afirmar que o menino era "um menino bom, sempre quieto, faltou foi criação adequada, foi família"...e a mãe o acusou "culpa sua, que não soube educar..." Pais, mães, por favor, dêem-se conta de que este papel é seu! Que todos os demais podem vir em auxílio, mas o poder pátrio e mátrio é seu! Este senhor fez o que pode, viúvo recente, sentindo a perda da esposa de muitos anos, com duas meninas, irmãs do rapaz atirador (assassino e suicida), de 7 e 9 anos, para continuar criando. Senhor!


Primeira imagem: o atirador, suicida aos 17 anos, quando criança. O quarto amplo dado pelo avô. No chão, a caixa onde estavam as botas adquiridas para serem usadas no massacre arquitetado há um ano e meio.


Rejeição
1 - O nível de rejeição era alto: primeiro (o mais determinante, foi o afastamento do convívio materno-paterno. Mesmo que a providência tenha sido necessária, uma criança não entende o real motivo. Sente-se rejeitada e pronto. E pior: puxa pra si a responsablidade desta rejeição e consequente afastamento. Ela, no seu entendimento, acredita ser a causa do desajuste, da separação. "Sou mau!" Por vezes, uma boa terapia ajuda a aprender a lidar com a realidade. Nem sempre.

2 - Na escola, sofreu (como muitas crianças) a rejeição e a humilhação devido às espinhas e seu comportamento, ora destacado por alguns como sendo perfil quieto, arredio e "bom menino" (no caso do garoto em questão, o avô, vários colegas da escola e a encarregada da biblioteca declararam isto) , ora destacado como agressivo (como a declaração da professora que foi à delegacia em depoimento espontâneo).

3 - Embora se desconheçam os motivos de ele ter sido despedido pelo tio com quem trabalhou no lava-jato, com certeza a demissão não foi algo bem digerido. Alguns especulam que o tio teria descoberto o plano macabro dos dois (sobrinho e amigo) e esta teria sido o motivo de haver sido morto.


Como adultos, quais os exemplos que damos às nossas crianças e jovens? Qual o nível de interação presencial que desfrutamos?

Convites para programas 'mornos' não cativam os adolescentes

Um adolescente ou jovem adulto, ainda mais que humanos de outras faixas etárias, costumam querer adrenalina, emoções fortes, esportes radicais, aventuras. É inerente aos 800% a mais de testosterona que naturalmente recebem em seu organismo logo que adentram a puberdade. Isto é inerente e será ingenuidade pensar que, se forem chamados a programas 'mornos' vão aceder em detrimento dos mais empolgantes e, quiçá, mais perigosos. O jovem "fuça" na web, descobrindo informações, grupos e caminhos que sequer imaginamos. Seja para poder driblar a vigilância dos pais cuidadores, seja para 'conhecer' este mundo ilimitado. 

Retomando o Massacre em Suzano, quando, dia seguinte à tragédia, o terceiro participante do grupo lamenta não ter sido 'convidado' a participar - já que havia planejado junto -, ele demonstra claramente que pensa igual, que a Vida - sua e de outros - não vale nada e que seu desapontamento é não ter participado, mesmo com os dois amigos mortos. Suas próprias mortes, que eles mesmos haviam planejado como epílogo após a consecução da trama bem urdida. 

Com o que nos deparamos? Com outros valores, diferentes daqueles que professamos, diferentes dos que professam as escolas e seus professores e dificilmente algum adulto vai poder mudar este cenário, provavelmente enraizado há tempos. Sim, perdemos o momento em que o caminho traçado se desviou. Mundo web, irreversível em suas ofertas, quebrando paradigmas e oferecendo facilmente perigosas opções. Sim, há muita, muita coisa boa, e, lado a lado, muito perigo. 

Como lidar com isto? Os adultos cuidadores costumam se escabelar, se horrorizar, vão levar a um psiquiatra que vai lhes aconselhar algumas coisas que eles (jovens) vão considerar baboseiras e receitar alguns psicotrópicos (os famosos tarja-preta), que, logo adiante, vão começar a dar novos e danosos efeitos colaterais. 









Situação difícil, quase desesperançador quadro, pois agora eles, estes jovens, já se sentem (finalmente, para eles!) PERTENCENDO a um grupo insurgente, revolucionário, que aponta o dedo médio para todos os que se lhes opõem. Como fez o estudante apenas algumas horas antes de matar e se matar.









Tentar ajudar a uma criança-adolescente-jovem adulto- a construir uma escala de valores começa bem, mas bem cedinho. 




E exige Constância de Propósito!



Plante uma árvore e faça a analogia com seu filhote

Então, pais, o que pode ser feito quando a cabeça de seu filho está noutra? Quando os valores assimilados já se sedimentaram em outro decálogo de convívio? Sei que alguns não querem aceitar, mas insisto sempre de novo e de novo: toda árvore gigantesca nasce de uma pequena e frágil plantinha. Precisa receber água em dosagem compatível, tem de ficar um tanto livre de ventanias, borrascas, granizo. Tem de ter espaço para se desenvolver. Tem de receber adubo.

O que se traduz, em analogia ao ser humano, em: Cuidados constantes, o mais amorosos e afetuosos possíveis. Sempre que um pai ou uma mãe se exceder, é preciso fazer um reconhecimento, um mea culpa e, sim, pedir desculpas ao pequeno pelo excesso. Mostrar que todo erro é uma nova oportunidade para um novo acerto. E que, nesta prática, eles, os erros, vão ficando sempre menores e espaçados no tempo. Não repetir tal excesso é primordial, pra que a força do exemplo possa se tornar modelo.

E, por fim, estar junto, monitorando, para ver se a 'árvore' está crescendo forte, ou, se precisar, conceder um novo arrimo. 

Como se traduz este 1º Cuidado - Precisa receber água em dosagem compatível, tem de ficar um tanto livre de ventanias, borrascas, granizo - quanto mais tenra a idade da criança, mais ela puxa pra si a responsabilidade de tudo que acontece no seu entorno. Um dos relatos mais emocionantes que li é do Gabor Maté, quando fala de sua origem. Nascido em meio à guerra, tendo perdido o pai quando tinha meses, cresceu vendo a mãe bastante triste e chorosa, sempre cabisbaixa. Ele pegou pra si a culpa desta tristeza! "Sou uma decepção pra minha mãe! Ela está triste por eu ser como sou!"... e, no caso dele, não era nada disto. A tristeza era para com as perdas que a mãe havia tido, incluindo o marido (pai de Gabor), era a tristeza e a desesperança que ela ela estava sentindo para com os problemas sérios que estava enfrentando. Imagina se é assim em situações onde a criança é amada, como será quando uma criança é verdadeiramente rejeitada, não aceita, não querida?

Proporcionar, dentro das possibilidades de cada cuidador, o melhor ambiente para a pequena vida em desenvolvimento é aumentar-lhe as chances de sobreviver a esta selva chamada sociedade e, muitas vezes, significa conceder-lhe capacidades para driblar os problemas e desafios e enfrentar a vida com alternativas justas e válidas.

Este, bem sabemos, é o sonho de cada mãe amorosa e de cada pai amoroso. Os primeiros anos (o que inclui o período gestacional) são os que marcam mais profundamente. Marcam pra sempre, ainda que o consciente sequer lembre dos fatos. As reações surgem e se costuma ouvir ou dizer: "Foi mais forte que eu!" Está lá, lá na memória remota. Quanto menos lixo armazenado, mais habilidades para lidar assertivamente.

Como se traduz este 2º Cuidado - Espaço para se desenvolver. Receber adubo - a criança e o adolescente precisam de espaço para se manifestar, convívio afetivo de qualidade para perceber que está em um ambiente acolhedor, onde é aceito do jeito que é. Que, sim, os pais são sujeitos a falhas (como todos), mas que, profundamente, ele é amado. 




Conversar conversas triviais e também bastante sérias. Estar junto. 

Os pais, bem mais que se escandalizar com o que o jovem pode expressar, precisam acolher e REDIRECIONAR, sutilmente, mostrando todos os prós e contras de determinadas decisões. 

Mostrar outros caminhos, outras alternativas. E não dar contra tudo o que o jovem demonstra querer fazer. Ainda que um pai conservador ou uma mãe conservadora possa considerar 'esquisito'. Se não acarretar desastre para ninguém, ajude-o! Incentive!

Como se traduz este 3º Cuidado - Ver se a 'árvore' está crescendo forte. Fortalecer pela prática - Há sempre formas mais amenas de 'botar pra fora' a agressividade, a inconformidade, a ansiedade. Esportes em conjunto, deixando espaço para ELE se mostrar e não como vejo muitas vezes, situações onde os pais é que querem ser os astros e não raro até filmam os filhos em situações dificultosas e mesmo de fracasso, para depois expor na web e troçar do pequeno com os amigos e todos os demais que se aproximarem... Isto é humilhação e não divertimento, e uma das maiores causas de revolta dos garotos e garotas. Em um estágio em que precisam se afirmar frente aos demais, especialmente junto aos pares, o que precisam é de acolhimento, validação, validação, validação. 

A autoestima se forma e se fortalece através da percepção de que se é agradável aos do entorno. Onde não há esta percepção (de ser bem querido e validado), a tendência será sempre procurar outros fóruns, na tentativa de se inserir em um grupo, por mais perigoso e perverso que este possa ser!

Muitas mais que DAR LIMITES é preciso MOSTRAR OS LIMITES que separam as ações de destruição, de desvalia, de medo, criminosas e, muitas vezes, mortais - como a incitação ao ódio nas suas variadas interfaces - e o que assegura um convívio pautado na respeito às diferenças. 

Quando um jovem COMPREENDER a distância que separa estes dois aspectos fundamentais da Vida - o que começa, sim, lá dentro da barriguinha da mãe - vai ficar mais fácil pra ele ESCOLHER qual caminho quer seguir. Porque, sim, NADA garante a um pai, a uma mãe que todos os seus sinceros e desvelados esforços possam redundar nos resultados almejados. Pois cada um, à medida que cresce e assume seu papel na vida, vai DECIDIR o que efetivamente considerar melhor pra si. Mas, com certeza, os genitores terão auxiliado com suas sementes, com suas palavras e, principalmente, com suas ações cotidianas. E a maioria dos seres humanos, tendo este alicerce emocional fortificado, reagem assertivamente, sem violência, sem agressão.



Exemplo é registro indelével.
Diálogo, sempre mais. 
Para isso, tem de estar junto!!!
Quanto menor a criança, maior a admiração pela figura dos pais!
Reinvente-se! 
Arrisque! 
No mínimo, monitore!

COM TODA CERTEZA, com uma autoestima bem constituída, com a autoconfiança bem reforçada, com um sorriso nos lábios e no coração por se saber bem aceito e bem querido, simplesmente NÃO HÁ ESPAÇO para a inconformidade, para sentimentos de menos valia, nem para sofrimentos solitários que tem de buscar escape em espaços dúbios! AMOR É A MELHOR ARMA QUE PODEMOS COLOCAR NAS MÃOS DE NOSSOS FILHOS! Arma que melhora e otimiza todo este estado de coisas! Amor reverbera em todos os corações, ampliando uma energia inerente a todos nós. 






Ver mais sobre ataques:

Massacre em Suzano - O que uma sociedade doente pode fazer por seus filhos?





Por Marise Jalowitzki
13.março.2019
https://compromissoconsciente.blogspot.com/2019/03/massacre-em-suzano-o-que-uma-sociedade.html



Massacre em Suzano - Analista de sistemas é o mentor do ataque na Escola
Brasil precisa URGENTEMENTE aumentar a vigilância na internet! (No centro da imagem Marcelo Valle Silveira Mello - criador do site Dogolachan)


14.março.2019
https://compromissoconsciente.blogspot.com/2019/03/massacre-em-suzano-analista-de-sistemas.html



Professor de violino da Escola de Música do DF é contido e levado a atendimento psiquiátrico após ser detectado em sua mochila uma besta, duas facas e cinco setas


"Era pra eu me matar!", disse ele ao ser contido. "Nossa sociedade está doente!", disse o Secretário da Educação, alvo do professor, que não teve seu nome divulgado (está afastado e em tratamento psiquiátrico)



Por Marise Jalowitzki 15.março.2019
https://compromissoconsciente.blogspot.com/2019/03/sociedade-doente-professor-de-violino.html 



Sobre Gabor Maté



Por Marise Jalowitzki
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2016/06/o-mito-da-normalidade-gabor-mate-fala.html



Mais sobre entendimento infantil

AS CINCO ETAPAS EMOCIONAIS DE CRIANÇAS FERIDAS E ABUSADAS






Por Marise Jalowitzki
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/05/as-cinco-etapas-emocionais-de-criancas.html


Mais sobre besta: https://www.metropoles.com/distrito-federal/seguranca-df/besta-usada-por-professor-que-invadiu-predio-e-vendida-sem-controle?utm_source=push&utm_medium=push&utm_campaign=push 


 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 

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