quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Gota




stá dentro de mim é passível de ação construtora,
ainda que eu hesite em manifestar.
A responsabilidade de meus atos é minha,
mesmo recebendo a influência cotidiana do que me afeta,
consciente ou inconscientemente.
Decido fazer o meu melhor. Sempre.
Me perdoando nas falhas.
Comemorando e elogiando meus feitos bons.
Sendo parte do Todo, o Todo está em mim e age, modifica, transforma.
E eu a Ele.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Preservação, conscientização e força







Vendo esta imagem compartilhada pela Veronica, lembrei de uma canção que a mãe cantava pra gente, na minha primeira infância.
(Desculpa os eventuais erros de grafia):

Fuchs, du hast die Gans gestohlen
Bring es wieder her, Bring es wieder her
Wenn nicht komm Dich
der Jäger hollen
Mit sein Schüssgewer.

(Raposa, tu roubaste o ganso
Traga-o de volta, traga-o de volta
Senão vem o caçador
com sua espingarda.)

E continuava falando na morte da raposa...
Lembro que tal perspectiva nos assustava e a gente perguntava: Mas a raposa não caça pra comer?

Se antes o caçador invadia as florestas, hoje há tanto desmatamento que, na minha infância, ainda conheci raposas.

Hoje, dificilmente ainda se vê uma!
Como com todos os animais silvestres!
E, os "domésticos", escravos perenes!

O que pode a ação de alguns poucos frente à devastadora ignomínia dos que usam a força e os projéteis?

Vergonhosa involução humana!!!

Refletindo sobre a trajetória dos chamados "diferentes", continuo repetindo: PARA SER BOM TEM DE SER CORAJOSO! 

E com a consciência de que, mesmo sendo minúscula a sua participação, sempre TÃO necessário o cuidado dos conscientes!!! Ainda que a sociedade pareça estar à deriva - e, em termos globais, está, mesmo! - é preciso perseverar e fazer a sua pequena parte, todos os dias!


E lembre: FAÇA O QUE ESTÁ DE ACORDO COM A SUA VERDADE! Ainda que todos - ou quase todos - que estão ao seu redor digam que nada a ver!

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Como aceitar-se se não aceito os outros?

Ancestralidade é a chave



Marise Jalowitzki

Uma canção veio-me à lembrança hoje pela manhã. Dizia assim: "Neste mundo cheio de tristeza e ambição, tenho andado procurando uma ilusão"... quando cantei, pensei logo: Gente, há quanto tempo! Esta música data do final dos anos 60, ou início de 70, do século e  do milênio passado, e já naquela época TANTOS jovens bradavam sua inconformidade com o jeito imposto de viver.

Hoje, os jovens parecem mais [in]conformados que as coisas são assim como são, mesmo, e, na sua [in]conformidade, deixaram de cantar a sua procura de ilusões, desiludidos como nenhuma outra geração esteve. 

E ao invés de cantar, fazer versos, sonhar, ansiar, alimentar esperanças, a maioria resolveu 'partir pra luta', mas não mais aquela luta dos anos 60, representada pelo movimento hippie (Love and Peace = Paz e Amor), ou da luta armada, composta pelos jovens que acreditavam que fazer-acontecer poderia fazer-acontecer (geralmente guiados pelas ideais políticos influentes, como o  marxismo, por exemplo).

Não, a luta dos jovens de hoje é diferente! Cansados de ver este mundão caótico à sua volta, novamente, aparecem vários grupos:

Grupo 1 -  Há os que se auto destroem através da drogadição [ilícita], de difícil retorno, podendo, inclusive, acabar em suicídio. Infelizmente, cada vez mais comum encontrá-los nas ruas, não somente em locais específicos (como as cracolândias). Não, estão todos por aí, escancarando o fracasso social obtido pela modernidade e avanços tecnológicos mal distribuídos, e sempre tão incentivados para o consumo.

Grupo 2 - Há, também, os que procuram as terapias (o que, em tese, é altamente louvável) no afã de se autoconhecer e ajustar-se ao sistema (ajustar-se = geralmente, um processo inócuo, já que somos o que somos exatamente ao validar nossas diferenças). Aqui (nas terapias), tem de cuidar muito o tempo em que os indivíduos ficam sob a influência de uma outra opinião (isto não pode ser ad eternum, para não perder sua essência. E, principalmente, se acontecer o uso prolongado de medicação psicotrópica, causando a dependência química e a despersonalização, onde, igualmente, acabam em processo de autodestruição. O que resulta, infelizmente, nos mesmos resultados que o grupo anterior. 

Grupo 3 - Existem, ainda, os que já nascem em meios violentos, recebem como herança influenciadora familiar os valores de que nada pode ser feito e que, caso queira algo, tem de tomar, tem de conseguir, tem de 'pegar' de alguém, independente de quem seja, e tornam-se os violadores, os assaltantes, os criminosos, que, também, em tempo recorde, passam pela [enorme] possibilidade de perder a vida, causando sofrimento coletivo (às suas vítimas, aos seus familiares).

É muito triste conhecer qualquer um dos integrantes destes grupos, pois fomos nós, os adultos de hoje que, de uma forma ou de outra, deixamos este estado de coisas acontecer!

Os que fazem diferente

E, como sempre, desde que a História da Humanidade é relatada, há também aqueles pequenos grupos que tentam, sofregamente, mudar o rumo das coisas, e que continuam sendo taxados de utopistas. 

A avalanche de críticas e perseguições é imensa, o enxovalhamento nunca foi tão brutal e generalizado. Sim, tivemos exemplos terríveis no passado, de castigos impostos aos utopistas, o que incluía, inclusive, queimar os corpos em praça pública. Mas, o cenário atual é um detonador em potencial do equilíbrio emocional de todos.

São muitas, muitas as atrocidades que tantos seres humanos perversos usam para humilhar os que não pensam como eles.

E nada, nada vai mudar enquanto continuar esta onda revanchista de: 'me ofendeu, eu te ofendo! E, antes que tu me ofendas, eu te ofendo'!!





É preciso espalhar, cada vez mais e mais, e mais e mais, Palavras de Paz! 

Enquanto um ficar xingando o outro, o círculo vicioso da desarmonia, da intranquilidade, da discórdia, da agressão e da violência vai continuar!



A PAZ

Para reconectar com  este estado de harmonização emocional, o primeiro passo é honrar os ancestrais. Isto mesmo! Enquanto permanecer ódio e revolta contra pai e mãe, contra outros familiares do clã, a irritação e a revolta só vão se agigantar! 

A figura paterna (pai) fornece como legado a nossa tendência ao estudo (aquisição de conhecimento) e a atividade que se acaba escolhendo (profissão, atividade laboral). Tenha o nome que tiver.

A figura materna (mãe) transmite a forma como os relacionamentos são tratados, como se lida com o(s) outro(s), nos diferentes âmbitos. E, também, coloca em nós a crença sobre a Prosperidade, a escolha do como "Eu vou conseguir".


Para muitos, é difícil encontrar referências boas nestas figuras (paterna e materna). Há duas formas de se harmonizar com os personagens diretos:

- Procurar algum outro parente ancestral (tio/tia, avô/avó, bisavó/bisavô), que foram, de alguma forma, elogiados pelo clã, por algum feito admirável.

- E, após esta identificação, procurar entender, com o coração, a dificuldade que o pai, ou a mãe, tiveram em seguir este modelo, mas que ele (o modelo) existe no clã do qual faz parte. E reconhecer e louvar isto, descendente direto que o jovem de hoje é.

Propicia a conexão com a Fonte Original daquele círculo familiar. E harmoniza interiormente. Necessário para uma visão mais clara de tudo que passou, do entorno, do que há por vir.

É preciso tentar, cada vez mais intensamente, pra poder romper este círculo de desavenças e ataques mútuos que hoje caracteriza a maioria das relações. 

Espalhar mensagens de Paz e, quando não for possível, sempre, ao final de alguma tragédia anunciada, concluir com a convocação a um fazer construtivo! 





É preciso tentar harmonizar todas as pessoas com as quais estamos envolvidas, seja as pessoas do passado, seja as pessoas do presente.


Não é a distância física que separa, é a distância mental, emocional. 

Assim, quando dizem: Você só dá o que tem dentro de si, é verdade! Só que dá pra mudar este conteúdo! Romper a sequência de ódios e maledicências. 

Importa não acirrar os ânimos [seus e dos outros]. 

Parar de brutalizar e, sim, pacificar!! Pra isso, vale aquela máxima que trago sempre: Preferencialmente, se abstenha de criticar e, caso critique, lembre de, para cada crítica, conceder dois elogios! É possível!

Link deste post: https://marisejalowitzki.blogspot.com/2019/10/como-aceitar-se-se-nao-aceito-os-outros.html







Marise Jalowitzki é mãe, avó, sogra, irmã, tia, filha, neta, amiga, cidadã.Também é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas.Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano. Querendo, veja aqui




segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Toque, a primeira linguagem


BSIP/Universal Images Group/Getty Images

Ao ver esta imagem e o título da matéria do The Lancet, lembrei das experiências nos kibuts, onde crianças orfãs eram resgatadas. O corpo médico notou que aquelas que recebiam mais afago, mais colo, mais carinho, mais toque, eram as que mais rapidamente se recuperavam. Vemos isto também entre humanos no mundo todo, em qualquer idade; idem nas relações de vários animais não humanos.

Sim, o toque é fundamental. O toque respeitoso de um médico competente mostra interesse real para com a saúde de seu paciente.

Lembro do quanto trabalhamos isto no Hospital de Clínicas, onde desenvolvi eventos de Desenvolvimento Humano para o corpo da Enfermagem e Atendimento por dois anos. Nesses encontros apareceram relatos de enfermeiras, de técnicos(as) de enfermagem e atendentes de enfermagem, sobre médicos que, ao chamar o "próximo a ser atendido" se recusavam a ler-dizer o nome do paciente inscrito no prontuário e preferiam chamar: "O fêmur", "O antebraço", "O pé", "O tórax"...

Nas relações interpessoais, igualmente, temos a força, a energia que passa quando damos a alguém o benefício do toque, de uma estendida, de uma mão no ombro, de um abraço.

Com certeza, Dr. Richard Horton, o toque transmite solidariedade, compreensão 
A isto se denomina HUMANIZAÇÃO NO ATENDIMENTO E EM TODAS AS RELAÇÕES.



Dr. Richard Horton
The Lancet

Por que os médicos não tocam mais nos pacientes? Tendo tido o privilégio de comparecer a clínicas no Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido quase todas as semanas desde março deste ano, posso dizer honestamente que em nenhum momento nenhum médico, cirurgião ou anestesista já concluiu algo relacionado a um exame físico. (Mesmo fazer uma história de um médico tem sido um exercício surpreendentemente superficial. As enfermeiras são mais completas, embora usando uma lista de verificação.) Essas observações não devem ser críticas. Você pode argumentar bastante que, como minha “queixa apresentada” não dizia respeito ao coração, pulmões, abdômen ou sistema neurológico, um exame físico completo era desnecessário.


Universal Images Group/Getty Image
Mas, eu, como alguém que cursou medicina na década de 1980, tive aprovada a importância da inspeção, palpação, percussão e auscultação em minha alma clínica emergente. As páginas e páginas das descobertas que escrevemos baseadas em extensas histórias e exames físicos estavam em conformidade com um padrão de detalhes extraordinários que fomos exortados, de fato necessários, a descrever. Mas não hoje. Ou, pelo menos, não na prática cotidiana da medicina contemporânea. O exame físico parece ter se tornado um anacronismo, um remanescente vestigial, de atendimento clínico. Devemos lamentar ou celebrar o fim da imposição de mãos?

De muitas maneiras devemos nos alegrar. Fui submetido a exames de ressonância magnética e PET-CT com contraste, submetidos a vários ECGs, exames de ultra-som e ecocardiogramas, perfurado com agulhas de biópsia e sentado em filas gigantes esperando que os tubos de ensaio fossem preenchidos com meu sangue. Quem precisa de médicos? A precisão da medicina tecnológica moderna triunfa sobre qualquer coisa que nossos sentidos humanos defeituosos possam detectar. 

Os médicos que eu tenho visto têm sido magníficos. Mas seus papéis têm sido estranhamente ambíguos. Um dispensa rapidamente as razões clínicas do nosso encontro, passando para lamentações divertidas e escandalosas sobre a administração do hospital. Outra é mais fria, até gelada, chamando (gritando) o nome de um paciente no meio da clínica. 

Espera-se que o paciente siga o consultor como um estudante da escola. 

Ao entrar na sala da clínica, você se senta e observa um rosto inexpressivo e assustadoramente assustador lendo a patologia (ou qualquer outra coisa) do computador. De uma maneira desarmante e direta, e sem um tom de contato visual, você aprende se o último pedaço de tecido extraído é livre ou não de doenças. O consultor é impassível, indiferente, pois transmite seu destino. E através de todas essas trocas, não há contato. De fato, o oposto. Separação absoluta. Nenhum exame das mãos. Nenhuma busca atenta de linfonodos aumentados. Não há sensação de pulso, radial, braquial, carotídeo ou de outra forma. Nenhuma medida da pressão venosa jugular. Nenhuma inspeção ou palpação do praecordium. Sem auscultação do coração. Sem percussão ou auscultação do peito. Nenhum exame abdominal. E o sistema nervoso de uma pessoa pode simplesmente não existir. Eu testei essas percepções com amigos que ainda vêem pacientes. Eles estão surpresos que eu estou surpreso.


Evitar o toque é uma estratégia ruim. 

Estou tão encantado quanto qualquer outra pessoa pelas novas tecnologias médicas. 
Honro (de fato agora dependo) da descoberta de novos medicamentos para gerenciar condições anteriormente intratáveis. 
Admiro as conquistas dos médicos em um ambiente clínico cada vez mais pressionado. 

Mas um exame clínico não se trata apenas de obter evidências para reunir um diagnóstico diferencial. 


Imagem: Peter Turnley/Corbis/VCG/Getty Images 
O exame clínico e o local central de contato nesse exame são sobre a promoção de uma conexão física e mental entre médico e paciente. 

O toque significa a natureza humana do paciente e do médico que ambos enfrentam. 
O toque humaniza essa situação. 
O toque gera confiança, segurança e um senso de comunhão. 
O toque é sobre promover um vínculo social de simpatia, compaixão e ternura entre dois estranhos. 
O toque pode até transmitir a ideia de sobrevivência.


Margaret Atwood escreveu em The Blind Assassin (2000): 

“O toque vem antes da vista, antes da fala. É a primeira linguagem e a última, e sempre diz a verdade." 

A impessoalidade do encontro clínico foi um grave revés para a medicina. A subestimação da importância do toque nega a necessidade universal de conexão física nas relações humanas, de qualquer tipo. O toque, expresso através do exame físico, comunica conforto e preocupação. O toque incentiva a cooperação. É hora de trazer de volta o toque para a medicina.





Richard Horton

Richard Charles Horton, FRCP, FMedSci, é o atual editor-chefe do The Lancet, uma revista médica sediada no Reino Unido.
Links:
DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(19)32280-9

https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(19)32280-9/fulltext?dgcid=raven_jbs_etoc_email

Link neste Blog: https://marisejalowitzki.blogspot.com/2019/10/toque-primeira-linguagem.html