quarta-feira, 30 de março de 2016

O que faço com meu senso de justiça - Assalto em supermercado



Assalto em supermercado

30.março.2016

Pois as horas avançam e a sensação desconfortável permanece.
A pergunta que paira é: O que faço com meu senso de justiça?
Será que o mundo mudou tanto ou agora estou vendo com novos olhos?
As pessoas parecem encharcadas de uma "sede-de-vingança-com-as-próprias-mãos" que, eu sei, sempre existiu, mas parecia que era menos!!

Hoje, ao adentrar um supermercado, quase fomos atropelados por um tumulto. O que parecia ser uma discussão, na verdade era os seguranças pegando um ladrão. Homem jovem, bem vestido, frequentador de academia (o corpo marombado revelava isto), em meio à abordagem, quando se viu no cerco, deu um empurrão no segurança e saiu correndo. Mais de 6 seguranças correndo atrás dele. Paralisada, assisti à cena; logo juntou-se ao grupo um outro homem, sem farda, que gritou: "Polícia!". A corrida continuou para um lado do estacionamento, depois para o outro; alguns pulavam a mureta para melhor alcançá-lo. Ouviu-se um estampido. Já pensando o pior, fui juntar-me ao aglomerado de pessoas.

Felizmente, o tiro havia só atingido o tornozelo. Algumas pessoas comentavam em voz baixa, outras filmavam. Pegaram o homem. Algemado ao corrimão da escada, tiraram seus tênis. Na mochila, quase uma dezena de energéticos roubados... Depois que o imobilizaram, começaram a xingá-lo e a bater. Ele, chorando, dizia:
- Eu pago, eu pago! Já me prenderam! Por que estão fazendo isso? Não precisam me bater! Eu pago. Deixa ou chamar minha esposa que ela vem pagar!

O homem parecia estar sob efeito de drogas, os olhos com aquele ar de vidro, inchados.
Os seguranças continuavam xingando e batendo e, quando ele tentou ligar para a esposa pelo celular, um dos seguranças agarrou o pulso dele para tirar o celular.
- Não vai ligar pra ninguém!
Ouviu-se uma voz clara, alta, sonora, dizendo:
- É direito dele chamar a esposa, ou alguém que possa vir na defesa dele. Chamem a polícia e deixem a polícia fazer o que precisa ser feito. Mas não batam! Vocês não são polícia!
Era a minha voz que bradava!
Um dos seguranças se voltou pra direção onde eu estava e respondeu:
- Mas ele me empurrou, ele me agrediu!
- Deixem a policia resolver isso! Não vamos fazer como em todo lugar tá acontecendo: bater, linchar, tá assim!!!
Fiquei mal vista no supermercado, alguns funcionários me seguindo quando fui fazer minhas compras, uma mulher, provavelmente uma supervisora, dizia algumas provocações às minhas costas.
Meio aturdida com tudo que presenciara, e agora, ouvindo aquilo, esqueci a metade do pouco que ía comprar e saí só com a granola e bananas.
No caixa, a funcionária disse que era o 3º assalto só naquela tarde.

Sociedade doente. Estado de caos.
Sei que não vou mais voltar a este supermercado.Pela pouca segurança. Pela atitude de "justiça-com-as-próprias-mãos" que parece ser a orientação recebida.

O homem ficou lá, algemado.
Não quis me envolver mais porque em nada poderia auxiliar. Dentro do super, minha companhia me aguardava, felizmente, não me censurou pela minha atitude.
Fiquei triste comigo porque, mais uma vez, fui levada pelo meu impulso. Poderia não ter ido olhar. Poderia não ter gritado nada!
Quando saímos, ele ainda estava lá.  Sozinho. Pelo menos não apanhou mais. Tomara que sua esposa tenha vindo logo!

Ainda estou aturdida. Cresci com uma ideia agora, aparentemente, tão fantasiosa do que seria infringir a lei. No "meu tempo" aprendia-se que, quando alguém violasse as regras sociais, quando comete-se um delito, iria preso, ressarciria o dano causado da melhor maneira. Apanhar e insultar não fazia parte. Mas, no transcorrer de toda a minha vida, fui percebendo que oscastigos corporais e a humilhação fazem parte do que as pessoas consideram uma "correção". Nunca vou pactuar com isso. Nem nas famílias (bater em filhos, bater na esposa, bater nos idosos, bater entre si), nem na sociedade.

Castigos, como trabalhos comunitarios e doações de seu tempo e dinheiro, isso são ressarcimentos educativos.
Castigo físico, apanhar, bater, não!

Mas, sinto que "estou por fora". Por isso esta sensação de vazio e inadequação.

Paz para todos!

http://marisejalowitzki.blogspot.com.br/2016/03/o-que-faco-com-meu-senso-de-justica.html