domingo, 16 de junho de 2019

Juízes empregam "constelação familiar" para tratar vícios e recuperar presos


O programa, considerado uma das boas práticas da Justiça Estadual, usa a técnica da constelação familiar no atendimento aos jurisdicionados.

Com louvor, transcrevo a matéria publicada, originalmente, na Agência CNJ de Notícias (veja link ao final). Que prospere muito esta prática! Isto, sim, é ir ao cerne da questão.

"José Antônio foi julgado e condenado a seis meses de detenção após se envolver em uma disputa por um poço em uma comunidade no Ceará, estado que há seis anos enfrenta estiagem severa. O rapaz, que é líder comunitário, defendia a permanência do uso coletivo da água pelos moradores da localidade em um incidente em que um advogado se apossou da fonte.
José Antônio é o nome fictício de um jovem réu primário que cumpre pena prestando serviços comunitários e tenta entender a reviravolta em sua vida em sessões de "constelação familiar", técnica alemã cada vez mais utilizada pela Justiça na solução de conflitos.
A história do jovem e as circunstâncias de sua detenção foram relatadas pela juíza Maria das Graças Quental, titular da Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas, em Fortaleza/CE, uma das responsáveis pelo programa Olhares e Fazeres Sistêmicos no Judiciário, no Ceará.
O programa, considerado uma das boas práticas da Justiça Estadual, usa a técnica da constelação familiar no atendimento aos jurisdicionados. A magistrada conta que as sessões de constelação ajudaram a levar alento ao jovem no entendimento de que há uma pena a cumprir, ainda que ele se sinta injustiçado.
“Ele foi condenado e ficou extremamente revoltado. Então, eu disse, vamos fazer assim: você vai usar seu tempo de pena para estudar e prestar serviços à comunidade e entender o que aconteceu para que isso não se repita”, lembrou a juíza Quental. 

Constelar para tratar a revolta 

A conversa da juíza com o jovem ocorreu durante uma audiência em que a ela o convidou a participar da constelação familiar. A magistrada explicou, ainda, que o tempo de participação nas sessões será usado para reduzir a duração da pena.
Maria das Graças conta que essa é a situação de centenas de jovens que se tornaram réus primários envolvidos em fatos em que são marcantes a condição da estrutura familiar, a baixa escolaridade e as condições de pobreza. Somem-se a isso, diz a juíza, os sentimentos de revolta e abandono que sentem ao serem encarcerados.


A técnica tem sido usada entre cumpridores de alternativas penais, para evitar que reincidam no crime, oferecendo oportunidade para que entendam os motivos que os levaram a delinquir.
“A maioria deles sucumbiu à droga, mas são réus primários com bons antecedentes. São jovens que não fazem parte de organização criminosa, não apresentam periculosidade e que precisam ser atendidos para não se tornarem reincidentes”, observou a juíza.

Tratamento do vício 

Em Santa Catarina a constelação familiar vem sendo usada entre presos com problemas com drogas e que tenham conflitos familiares. A iniciativa é apoiada pela Vara da Família do Norte da Ilha de Florianópolis e que também se notabiliza como uma boa prática da Justiça Estadual. 
Nesse trabalho conduzido com detentos da Casa do Albergado Irmão Uliano e do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, as sessões são usadas para que as pessoas privadas de liberdade entendam que os conflitos que as levaram ao cárcere tiveram origem em padrões familiares de comportamento.
“O Direito é transdisciplinar e se vale da psicologia, da sociologia e da antropologia e de qualquer outra experiência de transformação do conflito”, comenta a professora de Direito da Universidade do Vale do Itajaí e pesquisadora Márcia Sarubbi, responsável por conduzir as sessões de constelação familiar na Casa do Albergado e no Hospital de Custódia.
Ela é, juntamente com Fabiano Oldoni, autora do livro Constelação Sistêmica na Execução Penal, abordagem sobre práticas sistêmicas no direito de família e na violência doméstica. Na Casa do Albergado, as sessões são individuais, abrangendo 50 detentos com idades entre 20 e 50 anos de idade.
“Até o presente momento, em relação aos que aplicamos na dinâmica da constelação e que foram para a rua, nenhum deles voltou a delinquir e todos relatam melhora nas relações com os familiares”, diz Sarubbi.
Entre os atendidos está Paulo Henrique, nome fictício de um homem de 30 anos de idade condenado por homicídio e que fala (em vídeo a seguir) sobre os efeitos da sessão de constelação familiar. Ele relata que tinha um relacionamento complicado com a mãe e o irmão. A técnica o ajudou a perceber esse problema, propiciando a reconciliação e uma melhor estrutura familiar no enfrentamento do encarceramento. 
“A constelação me ajudou a tirar um peso que estava carregando, alguns porquês foram respondidos. Me ajudou a me manter mais calmo e a entender que tudo é um processo”, diz o "constelado" Paulo Henrique, que cumpre pena em Florianópolis.

Problemas mentais

No Hospital de Custódia, o atendimento é feito em um grupo com 20 a 30 detentos criminosos com problemas mentais. São homens condenados por estupro, homicídios (incluindo o de familiares) e roubo com quadros de esquizofrenia, psicopatia e depressão em perda da sanidade mental por uso intenso de álcool e drogas.
Nesse grupo, a constelação familiar é usada por integrantes do Judiciário, a fim de que os detentos compreendam o vício como um propulsor de crimes. A partir da técnica é feito um trabalho com os presos mostrando que eles pertencem a uma família e à sociedade.
Em um segundo momento, as sessões de constelação trabalham o sentimento de aceitação da família de origem e o entendimento dos motivos que os levaram a se tornar viciados e criminosos. “Seja para uma pessoa na cadeia ou para um casal que está se divorciando, esses são momentos de dor e, ao mesmo tempo, de cura. E o Direito vai ao encontro da terapia e promove o reencontro das partes para que a gente trate o conflito e haja pacificação social”, enfatiza Márcia Sarubbi.
Luciana Otoni
Agência CNJ de Notícias"

Publicado no CNJ em 25.abril.2018




Adianta lavar a honra e ir parar no cemitério?





Por Marise Jalowitzki
16.junho.2019
https://marisejalowitzki.blogspot.com/2019/06/adianta-lavar-honra-e-ir-parar-no.html

Domingo à tarde, por aqui, costuma ser um período de calmaria. Após o almoço, onde as pessoas, na maioria,  costumam se fartar de cadáveres de animais e álcool, geralmente vão dormir um sono insano.

Hoje fiquei em casa, ouvindo música, fazendo coisinhas, lendo, fazendo ginástica. Até que ouvi gritos de uma voz feminina:  “Ladrão! Ladrão! Vagabundo!”. Primeiro procurei desviar a atenção, pra não ferir minha serenidade. Mas não adiantou, pois a coisa continuou e adicionada com a voz masculina, e os dois passaram a se agredir mutuamente, muito coléricos e com termos bastante impróprios. A mulher estava fora de si e o homem não se economizou. De repente, barulho de pneus, creio que o homem deu ré no carro e direcionou à mulher. Ela continuava gritando: “Vai me matar? Vai me matar, ladrão, vagabundo?”... fechei os olhos e entrei em forte movimento de prece. Este homem tinha de ir embora, urgentemente. Era ele que estava com o carro, seria mais fácil sair do local. Ela teria de enfrentar sua impotência, mas um feminicídio estaria sendo evitado! 

FELIZMENTE, o homem fez isto mesmo: ainda foi gritando alguns impropérios, ela continuou também, mas tudo não passou disso!

Nas horas de raiva, não se pode perder a razão, o bom senso, o equilíbrio. Tanta tragédia acontecendo o tempo todo! Se há leis, que sejam seguidas, que sejam denunciadas as agressões, sejam da natureza que for. Não tenho conhecimento dos fatos destes dois personagens, quem tem a razão, mas estava evidente que a mulher era a parte mais frágil no confronto. E isto não pode ser perdido de vista. 

Nunca.

Denunciar, processar, mas não enfrentar assim, de peito aberto.

Venturosamente, tudo acabou sem morte, nem sangue. Ela deve ter sido socorrida por vizinhos e espero que vá, agora, lutar por seus direitos, ainda que demore.

Ainda tenho a lembrança de muitas mortes, uma bastante recente, de uma empreendedora aguerrida, que iniciou relacionamento com um homem diametralmente oposto a ela: pouca iniciativa, quieto, retraído. Ele começou a ter muito ciúme dela, queria que encerrasse a empresa que possuía e que ficasse vivendo só sob as custas dele. Ela não quis. Ele a conhecera assim. E passaram a se agredir verbalmente, cada vez de maneira mais pesada. Ele também a agrediu duas vezes fisicamente. Na segunda, foi fatal. Hoje, ela morta, ele, na cadeia. Relacionamentos tóxicos.

Como devemos nos afastar deste tipo de convívio!!! Muitas vezes não está nas mãos de uma pessoa o controle, então, sim, a única saída é afastar-se e procurar seus direitos.

Não, não adianta lavar a honra e ir parar no cemitério.

Voltei às minhas lides e fui ouvir um mantra.





 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com